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2 de setembro de 2011

No Vasco, o sentimento não para


RIO - Primeiro, a recuperação após um início de ano traumático, com quatro derrotas seguidas. Depois, um título que encerrou um jejum de oito anos e que foi comemorado com uma festa que parou a cidade. Mais recentemente, uma arrancada no Brasileiro que levou o time à vice-liderança e à chance real de brigar por um troféu que o clube não conquista há 11 anos. Em meio a tudo isso, o drama do técnico Ricardo Gomes, que segue internado após ter sofrido um Acidente Vascular Encefálico e ter ficado entre a vida e a morte. O Vasco vive um turbilhão de emoções, que parece fazer cada jogador ou membro da comissão técnica refletir e ter a sensiblidade à flor da pele.


São Januário vivia ontem uma manhã com aparente leveza. Seria um dia normal, daqueles que sucedem uma boa vitória, somada às notícias da recuperação de Ricardo Gomes. Mas o sentimentalismo tem ditado as reações. Ao responder a uma simples pergunta sobre a boa atuação que teve contra o Ceará, o lateral esquerdo Márcio Careca, que se acostumara a ouvir vaias da torcida, chorou em plena entrevista coletiva.

- É de se emocionar mesmo. Estou sozinho no Rio, minha família ficou em São Paulo. Era duro após ser vaiado não ter o ombro da esposa, a alegria que os filhos te dão. Eles sempre falam que confiam em mim e eu luto para dar o melhor para eles. E ainda tem este momento do Ricardo Gomes, a gente se pergunta como vai ser daqui para frente - disse. - A gente tenta tirar forças para lidar com tudo. Temos informações sobre o Ricardo o tempo todo. Nos momentos mais difíceis, ele nos ajudou.

Força no banco

Involuntariamente, Márcio Careca se tornou o símbolo capaz de revelar o momento do Vasco. Emoção pura, que se traduziu na oração antes do jogo com o Ceará, na entrega acima da média do time num jogo com estádio vazio e sob chuva fina. Ontem, via-se quase sempre os jogadores juntos, conversando.

- Aqui não tem aquela história de acabar o treino e o jogador querer ir embora. O vestiário é bom - disse Éder Luís, referindo-se ao ambiente. - Algumas brincadeiras parecem de criança.

Dono de bela atuação contra o Ceará, o atacante também abriu o coração ao falar da mistura de sentimentos que vive o Vasco.

- Estamos tendo, a cada dia, mais motivos para ficarmos felizes. E agora temos o Cristóvão à beira do campo. Todo mundo gosta muito dele também. E ele conhece muito futebol. Eu vou correr muito por ele, pelo Ricardo Gomes.

No bom momento do Vasco em campo, surgiu também a constatação de que as peças de reposição do elenco vêm funcionando. Com os dois gols marcados sobre o Ceará, Élton chegou a seis no Brasileiro e é o artilheiro do time, mesmo sem ser titular. Bernardo, o vice-artilheiro com cinco gols, também é reserva.

- Podemos trocar jogadores sem perder o nível de atuações - diz Cristóvão Borges, que assumiu o time na ausência de Ricardo Gomes.

Desfalques no domingo

No jogo contra o Ceará, Cristóvão não tinha os dois jogadores que vinham atuando nas laterais: Fágner e Jumar. Mas Allan e Márcio Careca entraram e se destacaram. Domingo, contra o América-MG, caberá ao banco de reservas novamente mostrar serviço, já que os problemas se acumulam. Na zaga, Dedé será o desfalque, já que está na seleção brasileira para o amistoso contra Gana. Victor Ramos formará dupla com Renato Silva. O lateral Julinho também vai continuar fora, recuperando-se de lesão no tornozelo esquerdo. Márcio Careca disputa a posição com Jumar. No ataque, Alecsandro, que deixou o jogo com o Ceará com dores na coxa esquerda, está vetado e Élton deve ter nova chance de jogar. Para completar, o meio-campo, que já está sem Felipe, em recuperação de cirurgia, pode perder Juninho Pernambucano. Ele se sentiu mal no intervalo do jogo da última quarta-feira e será reavaliado hoje.

O turbilhão de emoções vascaíno mexeu até com Ricardo Gomes. Ainda na UTI do Hospital Pasteur, o treinador, segundo os médicos que o acompanham, esboçou um sorriso ao saber que o time tinha vencido o Ceará, numa noite cheia de homenagens a ele. Ricardo Gomes, inclusive, já está mexendo os membros espontaneamente.

- Ele está reagindo e os sinais neurológicos estão excelentes. Ele está atendendo a comandos verbais, aperta a mão. A evolução é muito favorável - disse o médico José Antônio Guasti, que acrescentou que Ricardo não fala porque segue entubado.

Ricardo Gomes tem recebido frequentes visitas dos familiares e, como está a cada dia menos sonolento, tem reagido e mostrado emoção. Segundo os médicos, o que evidencia um progresso. Embora digam que é cedo para avaliar de forma definitiva que tipos de sequelas ele terá, os médicos acreditam ser possível que sequer a fala seja afetada. Para tanto, é preciso aguardar que o tubo seja retirado e que Ricardo desperte totalmente, já que ainda está parcialmente sedado.

Carlos Eduardo Mansur
O Globo

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