Edmundo abre o coração para os jornalistas
Sereno, sentado na porta da sala de musculação observando o treino dos companheiros na Granja Comary, em Teresópolis, Edmundo tentava se livrar de uma rinite alérgica, que o incomoda desde o último sábado. Para ele, a mudança de ambiente, do quarto de seu apartamento em São Conrado para um hotel na Região Serrana do Rio de Janeiro, não foi nada boa nos primeiros dias de trabalho no CT da
seleção brasileira.
O quadro, inclusive, fez com que Edmundo retornasse ao Rio de Janeiro na tarde desta segunda-feira. A rinite prejudicou o atleta, que não conseguia se recuperar do problema.
Em uma conversa informal com a imprensa, Edmundo, aos 37 anos, mostrou mais uma vez que tem o
Vasco no coração e que está disposto a se sacrificar para tirar a equipe das últimas posições na tabela. No fim do bate-papo, o jogador liberou que a "entrevista" fosse divulgada pelos jornalistas. Cansado da vida como profissional, admitiu que vai encerrar a carreira no fim do ano e contou algumas passagens de sua vida.
PAIXÃO PELO VASCO
”Vou ser sempre um apaixonado pelo Vasco. Vou continuar sendo vascaíno, sendo jogador ou não.”
OBJETIVO ATÉ O FIM DO ANO
”Só quero ajudar o Vasco e seguir o meu caminho. Tenho atuações boas e outras nem tanto, mas estou tentando ajudar o time a permanecer na Primeira Divisão. No fim do ano, eu paro.”
OITO GOLS DE SUPERAR ROMÁRIO COMO ARTILHEIRO EM BRASILEIROS
”Não me preocupo com isso, não. Até gosto de me sentir importante, mas não é isso. Eu preciso dos garotos, preciso do meu grupo. Se fizer os oito gols, claro que eu vou ficar feliz. Até sou um cara egoísta, às vezes arrogante, mas não tenho essa vaidade. Não faço filantropia, não sou que nem muitos que vão para a televisão fazer filantropia, mas por trás não são nada disso.”
Nota: Roberto Dinamite tem 190 gols na história do Brasileirão. O segundo da lista é Romário, com 155. Edmundo já marcou 148 vezes.
FUTEBOL BRASILEIRO
”Os ídolos do futebol não são respeitados no Brasil. Nos outros esportes, alguns fazem besteira, são pegos no doping, e continuam respeitados. São considerados ícones como atletas. Na minha opinião, isso é pior do que um acidente de carro. Sou lembrado muito por coisas que fiz 15 anos atrás. Isso é complicado."
IMPRENSA
”O pessoal me crucifica tanto, mas eu também tenho amigos, tenho família. As pessoas me ligam para saber o que aconteceu. Muitos nem se preocupam em verificar a notícia. Eu já estou marcado como um cara mau, que só faz besteira. Às vezes eu fico pensando se só fiz coisas erradas na minha carreira. Não que eu não erre, mas acho que eu já fiz algumas coisas boas. Só vão falar bem de mim quando eu morrer.”
FIM DA CARREIRA
”Do final do ano não passa. Tenho certeza disso, já está na minha cabeça. Como eu não estava preparado para começar, eu não estou preparado para encerrar, mas isso é uma coisa que acontece. Quero ficar um pouco com a minha família, viajar com os meus filhos. Estou contando as horas, minutos para isso acabar. Não agüento mais. Quando chegar o fim do ano, vou seguir o meu caminho e curtir a minha vida
FAMÍLIA
O meu filho vai fazer aniversário no próximo dia 21 e já me ligou perguntando se a festa vai ser sábado ou domingo. Respondi que não poderia ser em nenhum dos dias porque eu não vou poder estar lá.”
MUDANÇAS DE PLANOS
”Comecei a jogar pensando em comprar uma casa para a minha mãe. Consegui comprar a casa e um monte de problema. Se eu começasse hoje, tivesse 17, 18 anos, acho que não seria jogador de futebol. Acho que eu estudaria para ser outra coisa.”
NA ÉPOCA DE FLU...
”Para você ter uma idéia, na época em que eu estava no Fluminense, fui jogar uma pelada dentro da minha casa. Dezesseis pessoas e mais quatro estavam do lado de fora. Fui cruzar uma bola e acabei batendo com o braço na grade e ocorreu uma luxação. Eu morava ao lado da clínica São Bernardo (na Barra da Tijuca) e antes mesmo de chegar à clínica, uma pessoa que estava na pelada já havia avisado à Imprensa. Isso é complicado.”
O retorno de Edmundo à Granja Comary ainda é incerto. O jogador vai ficar em tratamento no Rio de Janeiro, e os médicos do Vasco esperam que o atleta tenha condição de voltar a treinar com o grupo em Teresópolis.
- O jogador, desde a semana passada, vinha realizando um tratamento específico. Ele vai ter o tratamento conduzido pelo médico Clóvis Munhoz e a expectativa é muito boa de uma recuperação rápida. A gente espera que ele retorne para a Granja Comary para encerrar o período de treinos em Teresópolis - afirma o médico do clube, Paulo César Andrade.
Fonte: globoesporte.globo.com
Márcio IannaccaDireto de Teresópolis, Rio de Janeiro
