Há pelo menos seis décadas o Gigante da Colina saúda seus fãs capixabas com sua presença no Estado
foto: Arquvio A Gazeta
Uma história de amor. Assim pode ser definida a relação entre o Vasco e o Espírito Santo. Há pelo menos seis décadas o Gigante da Colina saúda seus fãs capixabas com sua presença no Estado. Quase sempre com atletas nascidos em terras capixabas em seu elenco, como agora em 2008, a exemplo do atacante Faioli e do lateral-esquerdo Ramon. E quando foi o caso de o Vasco não buscar os capixabas, o destino se encarregou de alimentar esse amor.
Afinal, o primeiro gol de Romário como profissional, com a camisa do Vasco, foi marcado em Nova Venécia, no norte do Espírito Santo. E o que dizer do fato de a camisa de um clube capixaba, o Rio Branco, ter sido a primeira que o maior ídolo do Vasco e atual presidente do clube, Roberto Dinamite, vestiu além da cruzmaltina no futebol brasileiro?
A história do Vasco com o Espírito Santo é mesmo especial. Muita gente não sabe, mas o famoso Expresso da Vitória passou também pelas terras capixabas. Em uma dessas vezes, inclusive, o Vasco, recheado de estrelas, só veio ao Estado devido à paixão de seus torcedores, que já eram muitos por aqui na década de 1940 e arrecadaram às pressas o montante que faltava para cobrir a vinda da equipe.
Nos anos 1970, o time da Colina brindou seus torcedores com uma vitória no "clássico dos milhões". O jogo contra o arquirrival Flamengo foi no Estádio Engenheiro Araripe, em um torneio amistoso, que contou também com as participações de Desportiva e Rio Branco. Triunfo para provar um lema do qual a torcida vascaína tanto se orgulha: de que é o time da virada! Placar de 3 a 2 sobre o Urubu. A renda nessa ocasião não foi, digamos, "dos milhões". Apenas 15 mil pessoas compareceram.
Mas na década seguinte, em 1986, o Vasco fez, junto com o Rio Branco, o maior público da história do futebol no Espírito Santo: 32.308 pagantes, mas com mais de 40 mil presentes, espalhados pelo barranco do Estádio Kléber Andrade, em Cariacica, na época ainda sem suas arquibancadas totalmente construídas. Tarde de tristeza vascaína, porque a vitória foi capa-preta, por 1 a 0. Só uma página triste dessa longa história. A pré-temporada do Vasco no Espírito Santo para o ano de 2008 está chegando ao fim. Mas "o sentimento" dos vascaínos nascidos no Estado, certamente, "nunca vai parar".
O EXPRESSO DA VITÓRIA NO ES
Em março de 1948 o Vasco se sagrou campeão sul-americano, em Santiago, no Chile. Em abril, veio ao Espírito Santo. Como ainda não havia televisão, muita gente não reconhecia os ídolos, que quando desceram do avião provocaram perguntas do tipo: "Quem é aquele?" Em meio aos "famosos desconhecidos" estavam dois capixabas: Lola, ex-Santo Antônio, e Rômulo. Lola, aliás, chamou atenção por estar visivelmente mais robusto. Reflexo do "profissionalismo" do qual por aqui apenas se ouvia falar.
Era o dia 24 de abril quando o "Vasco com pitada capixaba", o que seria comum ao longo de sua história, encarou o Santo Antônio, no Estádio Governador Bley, em Vitória. Os "passes rápidos e precisos" dos comandados de Flávio Costa chamaram a atenção do público na vitória vascaína por 2 a 1, com gols de Dimas e Ipojucan para o Vasco e de Ormandino para o Santo Antônio. Na tarde seguinte o espetáculo foi melhor e para um público quase três vezes maior que o da véspera. Dessa vez, 3 a 1 sobre o Rio Branco. Os gols vascaínos foram de Ipojucan, Dimas e Pacheco.
No ano seguinte, em 1949, o Expresso da Vitória voltou. Cada dia mais valorizado, elevou-se o preço dos ingressos a até o dobro do ano anterior. O jornal A Gazeta do dia 25 de novembro anunciava: "Vitória viverá na tarde do próximo domingo um dos seus maiores dias. (...) Os capixabas conhecerão o mais credenciado quadro de futebol da América do Sul". A curiosidade da vez ficou por conta do esforço feito pela própria torcida para que o time viesse. O Vitória Futebol Clube, anfitrião, custeou 2/3, Cr$ 50 mil. Os outros Cr$ 25 mil necessários o alvianil arrecadou numa campanha feita junto aos fãs do Vasco no Espírito Santo, que, com doações, completaram o montante.
Recepção calorosa, hospedagem no então Hotel Majestic, no Centro de Vitória, e passagens para o trem que partia de Aimorés (MG) até a capital capixaba esgotadas. O time tinha o "príncipe" Danilo, Heleno de Freitas, eterno ídolo do rival Botafogo, o goleiro Barbosa e Ademir de Menezes, entre outras sumidades da bola. Bateu o Vitória por 4 a 2, mas com arbitragem contestada pelos capixabas, que choraram até gol anulado.
CLÁSSICOS CARIOCAS
O "clássico da paz" e o "clássico dos milhões". Sim, o Espírito Santo já sediou os dois. O jogo contra o América foi num quadrangular amistoso, em 1968, que teve também a Desportiva e o Rio Branco. Na verdade, o "clássico da paz" foi uma verdadeira guerra. O jogo foi marcado pela violência e por invasões a campo, inclusive da polícia. O time rubro, comandado por Evaristo de Macedo, acabaria campeão e bateu por 5 a 3 o Vasco, que teve o zagueiro Brito expulso se recusando a deixar o campo.
A alegria de vencer um clássico carioca diante dos capixabas se daria oito anos mais tarde. O Flamengo chegou a abrir 2 a 1, com Paulinho e o "capacete" Júnior marcando, contra um gol de Orlando Lelé. Mas aos 38 e 44 minutos do segundo tempo, Luis Carlos e o zagueiro Abel, respectivamente, viraram o jogo em favor da Cruz de Malta. Como não poderia deixar de ser, a "pitada capixaba" estava lá nas duas ocasiões. Contra o América, em 1968, o Espírito Santo vestiu a camisa vascaína por meio de Fontana. Contra o Flamengo, em 1976, com Luís Fumanchú, natural de Castelo, sul do Estado.
NO BRASILEIRÃO
O Vasco fez seis jogos pelo Campeonato Brasileiro no Espírito Santo. O primeiro foi em 1973, contra a Desportiva. Nas entrevistas de véspera, o técnico Mário Travalini, o goleiro Andrada e o meia Zanata rasgaram seda para o time capixaba, que fazia seu primeiro Nacional e surpreendia muita gente. Mas ao menos um jogador grená era bem conhecido dos vascaínos: o atacante Fio Maravilha, ex-Flamengo. No jogo, o Vasco venceu por 1 a 0, gol de Zanata, que acertou um belo chute de fora área e no ângulo. Foi a primeira partida do capixaba Fumanchú em Vitória. Em 1974, ano em que venceu seu primeiro Brasileiro, o Vasco também passou por aqui. Só não venceu. Empate sem gols com a mesma Desportiva, na época Desportiva Ferroviária.
Em 1986 foram mais duas visitas. E nada de vencer. No dia 21 de setembro, num Kleber Andrade com o povo lotando o barranco, que era o próprio estádio na época, o Rio Branco venceu por 1 a 0, com um gol de Márcio Fernandes após um cruzamento de Mazolinha. Em outubro a vitória capa-preta foi em pleno São Januário, 2 a 1. E em novembro o Vasco voltou, dessa vez ao Araripe, mas não passou de um empate em 1 a 1 contra o mesmo Rio Branco. Gols de Jorge Mendonça para o Rio Branco e de Romário para o Vasco. Geovani era o capixaba com a cruz de malta no peito nessa passagem.
Em novembro 1995, mais dois jogos no Espírito Santo. A diferença é que aí o Vasco era o mandante. Derrota de 3 a 1 para o Paraná e vitória por 1 a 0 sobre o Guarani, gol de Valdir Bigode. A última passagem vascaína pelo Estado antes da pré-temporada deste ano foi em 2000, não em jogo válido pelo Brasileiro. Um amistoso contra o Rio Branco. Vitória por 2 a 0, com direito a dois gols do "zagueiro-zagueiro" Odvan, e presença do capixaba Fabiano Eller, natural de Linhares, no time vascaíno.
ROMÁRIO E DINAMITE
Pode até ter sido por acaso. Mas aconteceu. O primeiro gol do baixinho Romário no futebol profissional foi no Espírito Santo. O ano era o de 1985. Goleada de 6 a 0 sobre o Veneciano, de Nova Venécia, norte do Estado. E um outro ídolo vascaíno, talvez o maior de todos, deu um presente ainda maior aos capixabas. Roberto Dinamite vestiu a camisa do Rio Branco em 2 de fevereiro de 1986. Foi a primeira que ele usou uma camisa de clube brasileiro que não fosse a do Vasco. O motivo? A despedida do atacante Dé, o Aranha, do futebol. Dé havia sido ídolo vascaíno e também do Brancão. Estivera na estréia de Dinamite nos profissionais, nos anos 1970, e o velho companheiro retribuía com a presença em sua despedida.
O jogo foi contra a seleção da Costa do Marfim. Os africanos venceram por 4 a 3. Roberto Dinamite jogou só durante o primeiro tempo e não fez gol com a camisa capa-preta. Nem precisava. A história já havia se encarregado de mais um capítulo dessa impressionante ligação do Vasco com o Espírito Santo. História que não deixa de ter o seu lado irônico. Sabem por que Dinamite só atuou durante o primeiro tempo da partida? Vejam só. Precisava pegar o vôo de volta ao Rio, pois no dia seguinte tinha uma inadiável reunião (para tentar renovar seu contrato) com ninguém menos que ele, seu antecessor na presidência vascaína: Eurico Miranda!
FICHAS
24 de abril de 1948
SANTO ANTONIO 1 X 2 VASCO (amistoso)
Santo Antônio: Adjalma; China e Reis; Gabriel, Jarbas (Pedro Hermínio) e Mauro; Jair (Didi), Zezinho (Goibira), Ormandino, Jaime e Tom.
Vasco: Barqueta; Laerte e Wilson; Rômulo, Moacir e Sampaio; Nestor, Ipojucan, Dimas, Tuta e Mário.
Estádio: Governador Bley (Vitória)
Árbitro: Antonio Moreira Filho
Gols: Ormandino; Dimas e Ipojucan.
Renda: Cr$ 14.000,00
25 de abril de 1948 (amsitoso)
RIO BRANCO 1 X 3 VASCO
Rio Branco: Brandolini; Aristóteles (Clodoaldo) e Hélio; Walter, J.Pedro e Toninho (Erli); Cica (Alci), Altamiro, Nenem (Maurício) e Milton.
Vasco: Barqueta (Ernani); Laerte e Wilson; Rômulo, Moacir (Lola) e Sampaio (Moacir); Nestor, Ipojucan, Dimas (Pacheco), Tuta e Mário.
Gols: Altamiro; Ipojucan, Dimas e Pacheco.
Estádio: Governador Bley (Vitória)
Árbitro: Antonio Moreira Filho
Renda: Cr$ 41.150,00
5 de setembro de 1973 (Campeonato Brasileiro)
DESPORTIVA 0 X 1 VASCO
Desportiva: Jorge Reis; Walter Gomes, Juci, Elci e Nelson Souza; Wilson Pereira, Evandro e Lucinho; Zezinho Bugre, Fio Maravilha e Vicente (Rogério).
Vasco: Andrada; Paulo César, Moisés, Renê e Alfinete (Pedrinho); Alcir, Zanata, Luís Fumanchú e Buglê (Ademir); Roberto Dinamite e Luís Carlos.
Estádio: Engenheiro Araripe
Árbitro: Emídio Marques Mesquita
Gol: Zanata, aos 7 minutos do 2º tempo.
3 de dezembro de 1976 (Torneio Amistoso)
VASCO 3 X 2 FLAMENGO
Vasco: Mazaropi; Orlando Lelé, Abel, Gaúcho e Luís Augusto; Helinho, Zanata, Zandonaide (Neném) e Luís Fumanchú; Luís Carlos e Alcides.
Flamengo: Roberto; Toninho, Dequinha, Jaime (Vanderlei) e Júnior; Merica, Tadeu (Adílio) e Zico; Paulinho, Marcinho e Luís Paulo (Júlio César)
Estádio: Engenheiro Araripe
Árbitro: Ozires Pizzol
Gols: Paulinho (FLA), aos 13, e Orlando Lelé (VAS), aos 41 minutos do 1º tempo. Júnior (FLA), aos 13, Luís Carlos (VAS), aos 38, e Abel (VAS), aos 44 do 2º tempo.
Renda: Cr$ 509.020,00
Público: 15.902
21 de setembro de 1986 (Campeonato Brasileiro)
RIO BRANCO 1 X 0 VASCO
Rio Branco: Rodolfo; Nenê, Neném Carioca, Paulo e Nonoca; Sidnei, Cardim e Mazolinha; Edson, Jones e Márcio Fernandes.
Vasco: Acácio; Paulo Roberto, Juninho, Fernando e Pedrinho; Josenilton, Mazinho (Santos) e Roberto Dinamite; Mauricinho (Geovani), Claudinho e Zé Sérgio.
Estádio: Kleber Andrade
Árbitro: Almir Laguna
Gol: Márcio Fernandes, aos 29 do 2º tempo.
Público: 32.308 pagantes (Total estimado: 40 mil)
Fonte:
17/01/2009 - (Bruno Marques - A Gazeta)
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