Para entender o início dessa história de sucesso, porém, precisamos compreender o momento pelo qual passava o Vasco em 1971. Apenas um ano antes, em 1970, o clube acabara de se livrar de um jejum de doze anos sem ser campeão carioca, iniciado com a conquista do Super-super de 1958. É bem verdade que o Vasco ganhara em 1965 a 1ª Taça Guanabara e em 1966 - de forma peculiar, dividindo o título com mais três times - o Torneio Rio-São Paulo. Mas nada se comparava ao título carioca, então o mais importante e tradicional já que não existia o Campeonato Brasileiro como o conhecemos hoje e conquistas como a Libertadores e o Mundial Interclubes só eram privilégio do Santos de Pelé.
A luta desesperada por um título carioca durante a década de 60 fez com que torcida e diretoria não tivessem paciência para esperar que jovens valores amadurecessem. A ordem era contratar figurões, às vezes a peso de ouro, para ver se resolviam o jejum de títulos. A instabilidade política - sempre presente no Vasco, mas na década de 60 especialmente forte - completava o quadro tenebroso.
Mas o Vasco foi campeão em 1970 e tudo se acalmou. E foi nesse contexto que jovens como Roberto tiveram tranqüilidade para amadurecer nas categorias de base, sem serem "queimados" logo de cara. Roberto saiu-se muito bem no Campeonato Carioca de Juvenis de 1970, terminando como artilheiro do Vasco com 10 gols. No campeonato de juvenis de 1971 Roberto foi ainda mais longe: com 13 gols, foi o artilheiro de toda a competição. Aquele time de juvenis de 1971, além de Roberto, revelaria também os jogadores Gaúcho (hoje treinador) e Luís Fumanchu.
Foi quando o técnico Admildo Chirol (falecido em 28/12/1998, ao 64 anos) começou um trabalho gradual de inserção de Roberto no "time de cima". Aos poucos, o futuro ídolo ia sendo relacionado para completar o time reserva em alguns coletivos e para se concentrar com os profissionais. O fato curioso é que Admildo Chirol, preparador físico da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970, no México, fora contratado para desempenhar essa mesma função no Vasco. Com a queda do treinador Paulo Amaral, entretanto, Chirol acabaria assumindo o comando técnico da equipe até o fim do ano.
O primeiro jogo de Roberto no time profissional do Vasco foi contra o Bahia, no Estádio da Fonte Nova, no dia 14/11/1971. O Bahia vencia por 1 a 0 e o treinador Chirol colocou-o no time no intervalo, no lugar do meio-campo Pastoril. Roberto tinha 17 anos e sete meses de idade. A partida terminou com a vitória tricolor pela contagem mínima.
Mesmo com a derrota o Vasco se classificou para a segunda fase do Brasileirão, em que enfrentaria, num quadrangular, Atlético Mineiro (futuro campeão da competição), Santos (com Pelé e tudo) e Internacional de Porto Alegre. O primeiro jogo seria contra o Galo, em Minas. Roberto se destacou nos coletivos durante a semana e garantiu sua escalação como titular no time. A manchete do Jornal dos Sports no dia anterior ao jogo foi: "VASCO ESCALA GARÔTO-DINAMITE" (respeitando a grafia da época, que colocava o acento circunflexo sobre o primeiro "o" de "garoto"). Na reportagem, lia-se:
"Roberto, um garôto revelado nos juvenis, marcou dois bonitos gols, entrosou-se com Dé [o 'Aranha', hoje treinador] e joga amanhã contra o Atlético Mineiro no Mineirão."
O jornalista Sérgio Cabral, vascaíno, na época colunista do Jornal dos Sports, escreveu no dia do jogo:
"O Garôto-dinamite vai explodir hoje. Roberto acabou com o treino sexta-feira e está com jeito de que não pretende deixar o time titular."
Pesquisando-se as edições da época do Jornal dos Sports, aliás, nota-se claramente que, ao contrário do que sempre se afirmou, o apelido "Garoto-dinamite" não foi criado após o jogo Vasco x Inter; ele já vinha sendo utilizado antes do primeiro gol de Roberto como profissional. O apelido fora uma criação de dois jornalistas do "Cor-de-Rosa", Eliomário Valente e Aparício Pires, ambos vascaínos. Roberto, anos depois, reconheceu que foi o melhor apelido que lhe colocaram.
Voltemos, porém, a 1971. Roberto não fez uma boa partida naquele dia 21 de novembro, um domingo, no Mineirão. Acabou substituído. O JS do dia seguinte observou:
"Roberto pareceu sentir a responsabilidade e foi apenas regular, embora demonstre qualidades para melhorar no futuro."
O jogo seguinte seria contra o Internacional, no Maracanã. Roberto começou no banco, mas, mesmo assim, prometeu:
"Vou me matar em campo para fazer o gol que estou devendo à torcida."
Era uma quinta-feira, dia 25 de novembro, e a partida estava marcada para as 21 horas e 15 minutos. O jogo começou morno e os dois times se arrastaram em campo durante todo o primeiro tempo, que terminou 0 a 0. No seguindo tempo, logo aos 5 minutos, Buglê fez 1 a 0 para o Vasco. Alguns minutos depois, o técnico Admildo Chirol tirou Gilson Nunes (hoje treinador) para colocar Roberto em campo. Na primeira bola que pegou, aos 27 minutos, a jovem promessa vascaína driblou três adversários, ganhou do quarto, Pontes, na corrida, e, da entrada da área, fuzilou de pé direito, numa bomba que entrou no ângulo esquerdo do goleiro Gainete. Vasco 2 a 0. O Inter ainda perdeu um pênalti dois minutos depois, o que praticamente definiu a vitória cruzmaltina.
No dia seguinte, o Jornal dos Sports estampava a manchete que passaria à História: "GARÔTO-DINAMITE EXPLODIU". Na reportagem, Roberto dava sua primeira declaração após a "explosão":
"Antes de entrar eu estava um pouco nervoso e alguém alertou que eu esfregava muito as mãos. Talvez tenha sido porque meus pais estavam lá assistindo o jogo. Graças a Deus dei sorte naquele lance e ofereço a eles o gol."
Roberto também descreveu com detalhes o primeiro de seus cerca de 700 gols como profissional:
"Recebi o lançamento, vi uma brecha e joguei a bola na frente. Aí o Gainete ficou indeciso e pensei rápido: 'É agora'. Não deu outra coisa. Quero ter esta alegria muitas outras vezes."
Roberto Dinamite não só teve essa alegria muitas outras vezes como proporcionou o mesmo sentimento a todos os vascaínos. E é por isso que, nesta data, a NETVASCO homenageia o maior ídolo do Vasco da Gama.
FICHA DO JOGO
VASCO 2 X 0 INTERNACIONAL
Competição: Campeonato Brasileiro (2ª Fase - 1º Turno - 2ª Rodada)
Data: 25/11/1971 (quinta-feira)
Hora: 21h15min
Estádio: Maracanã, no Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Maurílio José Santiago
Auxiliares: Rubens Paullis e Dagomir Sacramento
Público: 10.449 pagantes
Renda: Cr$ 49.675,00
VASCO: Andrada; Haroldo, Miguel, Renê e Alfinete; Alcir, Buglê e Benetti (Jaílson); Luiz Carlos, Ferreti e Gílson Nunes (Roberto). Técnico: Admildo Chirol
INTERNACIONAL: Gainete; Bira, Pontes, Flávio e Édson Madureira; Carbone, Paulo César e Dorinho (Árlem); Valdomiro, Claudiomiro (Bráulio) e Sérgio. Técnico: Dino Sani
Gols: Buglê (VAS) 5' do 2º; Roberto (VAS) 27' do 2º
Observações: Primeiro gol de Roberto Dinamite como profissional. O Internacional perdeu um pênalti aos 29 minutos do 2º tempo, cobrado por Bráulio. Alcir é Alcir Portella, hoje auxiliar-técnico do Vasco. Jaílson trabalha com as categorias de base do Vasco. Gainete já havia jogado no Vasco e sido campeão da 1ª Taça Guanabara em 1965. Gilson Nunes, Carbone e Paulo César (Carpeggiani) também são ou foram treinadores de futebol.
Agradecimento a Mauro Prais.
Fonte: NETVASCO (texto), Jornal dos Sports (ficha e foto), Jornal dos Sports/digitalizado por NETVASCO (fotos).
Carlos Roberto de Oliveira, mais conhecido como Roberto Dinamite (Duque de Caxias, 13 de abril de 1954), é um ex-futebolista brasileiro e atual presidente do Vasco da Gama
É tido como maior ídolo do Vasco pelos torcedores, e é considerado o maior goleador da história do clube. É também o jogador com maior número de gols na história do Campeonato Brasileiro (190) e do Campeonato Carioca (279). Considerado pela IFFHS o quinto maior goleador do futebol mundial em campeonatos nacionais de primeira divisão, com 470 gols em 758 jogos
Infância e categorias de base
Carlos Roberto Dinamite de Oliveira nasceu em 13 de Abril de 1954, às 4h25 em São Bento (Duque de Caxias). Logo cedo, Roberto (que naquela época era conhecido pelo apelido de Calu) começou a mostrar intimidade com a bola. Igual a muitas crianças apaixonadas pelo futebol, chegava a dormir com ela nos braços enquanto imaginava as jogadas que faria na próxima partida de várzea.
Aos 12 anos, o pequeno Calu já era titular do principal time do bairro, o Esporte Clube São Bento, onde se destacava como artilheiro. Nessas peladas tinha uma característica marcante: era o mais fominha e exigia de seus companheiros que as jogadas de ataque passassem pelos seus pés. Contudo, quando recebia a bola, dificilmente a devolvia.
Apesar do individualismo - era fã de Jairzinho, autor de gols em todas as partidas durante a conquista do tricampeonato mundial no México - já demonstrava toda sua habilidade e precisão nos arremates de curta e longa distâncias. Graças a isso,no ano de 1969, foi convidado a treinar nas categorias de base do Vasco por Gradim, olheiro do clube, responsável por garimpar jovens talentos nos campos de pelada espalhados pelo subúrbio do Rio de Janeiro. Um mês depois, já estava jogando na equipe juvenil dirigida por Célio de Souza. Em pouco mais de um ano no clube, já anotava mais de 46 gols.
Em um ano de clube, Roberto ganhou 15 quilos, graças a um rigoroso trabalho muscular, tornando-se um dos jovens mais promissores do clube, recebendo constantes elogios de treinadores e dirigentes. No Campeonato Carioca de Juvenis de 1970 foi o artilheiro vascaíno, com 10 gols. Já no mesmo torneio, no ano seguinte, foi mais longe: foi o artilheiro da competição, com 13 gols.
Surge o Dinamite
Roberto fez sua primeira partida profissional contra o Bahia, no dia 14 de Novembro de 1971, com dezessete anos. O Bahia vencia por 1 a 0 e o treinador Admildo Chirol o colocou no lugar do meio campista Pastoril no intervalo da partida. Mas ainda não era hora do futuro ídolo. O Vasco acabou perdendo o jogo pelo placar de 1 a 0.
Mesmo com a derrota, o Vasco estava classificado para a segunda fase do torneio, onde enfrentaria Atlético Mineiro (que viria a ser o campeão da competição), o Santos de Pelé e o Internacional. Durante a semana que antecedeu o primeiro jogo, contra o Atlético, Roberto se destacou nos treinos e foi escalado como titular para a partida. No dia anterior à partida o Jornal dos Sports colocava em suas manchetes: "Vasco escala garoto-dinamite".
Diferente do que é divulgado, o apelido Dinamite não surgiu depois do jogo contra o Internacional. O apelido foi criação de dois jornalistas do Jornal dos Sports, Eliomário Valente e Aparício Pires, ambos vascaínos, e criado quando Roberto já se destacava nos juvenis.
Naquele jogo contra o Atlético Mineiro, no dia 21 de Novembro, Roberto não foi bem e acabou sendo substituído. Houve uma grande decepção na torcida vascaína, que depositava muitas esperanças nele.
O jogo seguinte ocorreu em 28 de Novembro, uma quinta-feira, contra o Inter, no Maracanã. No segundo tempo, quando o Vasco vencia por 1 a 0, Admildo Chirol tirou Gilson Nunes e colocou Roberto. Na primeira bola que recebeu Roberto driblou quatro jogadores jogando a bola no canto esquerdo, num belo gol, o seu primeiro no time profissional.
No dia seguinte o Jornal dos Sports estampava em letras garrafais a manchete: "GAROTO DINAMITE-EXPLODIU!".
Era o adeus definitivo de Calu, e o surgimento de Roberto Dinamite, que viria a ser considerado por muitos o maior ídolo da história do Vasco, imortalizando a camisa 10.
Começa a história de amor com o Vasco
A partir de então, começou sua longa história de amor com a torcida. O centroavante atuou pelo time profissional do Vasco de 1971 a 1980, quando se transferiu para o Barcelona, numa negociação que envolveu muito dinheiro. Voltou ao clube três meses depois, onde ficou até 1989, antes de ser negociado com a Portuguesa. Seis meses depois, Dinamite estava novamente no Vasco, para encerrar sua brilhante carreira, em 1993, aos 39 anos de idade.
Alto e forte, Dinamite usava com muita inteligência seu corpo e dificilmente perdia a bola para um adversário, tornando-se um grande perigo na área inimiga. Ele conseguiu a média de 36 gols por temporada nos 22 anos de carreira - disputou 1.108 partidas. Seu melhor ano foi em 1981, quando deixou por 62 vezes a sua marca, superando o recorde de Zico, o maior ídolo da torcida do rival, o Flamengo, que havia feito 45.
Suas principais características dentro de campo eram o oportunismo, a competência e a sorte. Sabia cobrar faltas como poucos, além de desenvolver, ao longo de sua carreira, a capacidade de chutar com as duas pernas.
Participou da conquista de cinco estaduais - 1977, 1982, 1987, 1988 e 1992. Em 1974, conquistou o título de campeão brasileiro batendo o Cruzeiro na final por 2 a 1. Apesar de não ter marcado na decisão, Roberto Dinamite foi o artilheiro da competição com 16 gols e maior responsável pelo inédito título.
A frustração em Barcelona
Em 1980, muito assediado por clubes europeus, o Vasco não pôde evitar a transferência de seu melhor atleta para o poderoso Barcelona. O brasileiro substituiria o atacante austríaco Hans Krankl, que, por ter brigado com o treinador Ladislao Kubala, acabou dispensado.
Em sua estreia no clube catalão, Dinamite marcou dois gols. Entretanto, o técnico que o contratara, Joaquín Rife, foi demitido três rodadas depois, sendo substituído por Helenio Herrera, que não lhe deu o mesmo espaço, o que não o impediu de não ser cobrado pela torcida.
Sabendo da falta de sorte de Roberto na Espanha, o Flamengo o procurou, com seu presidente à época (Márcio Braga) indo pessoalmente conversar com o jogador. Num primeiro momento o Vasco, que havia sido contactado, não se interessou, só entrando na disputa pela volta de Dinamite ao Brasil após pressão da torcida. Avisado para não assinar com o rival e de que Eurico Miranda também iria à Espanha conversar com ele, Roberto acertou seu retorno ao Vasco apenas três meses após tê-lo deixado. A torcida lotou São Januário para saudá-lo.
A volta de Roberto ocorreu num pequeno jogo, contra o Náutico, que o próprio jura não lembrar. Mas o verdadeiro jogo que consolidou sua volta ocorreu no dia 5 de maio de 1980, num jogo Vasco x Corinthians. Antes deste jogo, teve um jogo do Flamengo. A torcida rubro-negra, então, tinha ficado no estádio, secando o Vasco, formando o que foi chamado de "Fla-fiel". 110.000 pessoas presenciaram a nova "explosão" de Roberto, que fez 5 gols e decretou a vitória do Vasco por 5 a 2. Foi a volta triunfal do maior ídolo do clube, acompanhada inclusive por um repórter de Barcelona, que relataria o jogo para um jornal local com os dizeres: "Esto, sí, es lo verdadero Dinamita"
Política interna do clube
Roberto Dinamite foi o grande rival político de Eurico Miranda, presidente do Vasco no período 2001-2008. Essa rivalidade começou após a polêmica expulsão de Roberto Dinamite e seu filho da Tribuna de Honra de São Januário, numa atitude autoritária típica do ex-presidente do clube. Iniciava-se assim a derrocada de Eurico Miranda e a ascensão de Roberto Dinamite, que nos braços da torcida, seria ungido à presidência do Clube que o formou.
Após a expulsão da tribuna, Roberto Dinamite, com o apoio do MUV (Movimento Unido Vascaíno, criado em oposição aos abusos de Eurico Miranda), foi derrotado em duas eleições cercadas de polêmica e com acusações de fraude. Na época até os sócios já falecidos votaram no então presidente. Porém, a segunda eleição, em 2006, teve tantas irregularidades e abusos que acabou sendo anulada pela justiça e remarcado para 2008.
No dia 21 de junho de 2008, a chapa pró-Dinamite venceu as eleições para formação do Conselho Deliberativo do Vasco. A imensa torcida Vascaína, antes dormente, entrou em polvorosa. A festa era tão intensa que parecia que o Vasco tinha ganhado um título mundial. Era o ídolo maior que retornava para salvar o clube do abismo. Sabendo que não teria chances numa eleição limpa, Eurico Miranda decidiu não participar do novo pleito.
Na madrugada de 28 de Junho de 2008, com participação de vascaínos ilustres antes afastados do clube e apoio maciço da torcida, o conselho deliberativo elegeu Roberto o novo presidente do clube.
Videos